Pontapé inicial para o Vitória Arena
por Marcus Alves
Arena
da Baixada, em Curitiba: pioneira no Brasil.
O grande sonho do torcedor rubro-negro deverá
virar realidade dentro de dois anos, em 2004. Não se trata da conquista do
primeiro Campeonato Brasileiro, muito menos da volta de Petkovic ou Dida, mas
sim da construção de seu novo estádio, o Vitória Arena.
Em uma jogada de craque, o ambicioso presidente do Vitória S/A, Paulo Carneiro,
assinou o contrato com o grupo português Edifer. Esse projeto prevê um orçamento
de U$50 milhões para a construção de uma Arena Multieventos, sem que o Vitória
gaste um único centavo, já que todo o dinheiro será proveniente dos cofres
portugueses.
O grupo Edifer, uma das maiores empresas de Portugal na área da construção
civil, custeará parte dos recursos necessários para a construção da arena
rubro-negra e buscará a outra parte do investimento no mercado. Em solo
brasileiro, a Arena da Baixada, do Atlético Paranaense, em Curitiba, é o único
estádio nesses moldes, até o momento.
O pontapé inicial para a construção do Vitória Arena já foi dado. A Edifer
teve o seu pedido de licença de funcionamento aceito pela Prefeitura de
Salvador, depois de concluídos os estudos sobre o impacto ambiental que
provocará no local da construção. O terreno de 400 mil metros quadrados está
ao lado do parque desativado Wet n' Wild, na Avenida Paralela, que liga o
aeroporto ao centro da cidade, ao largo da orla marítima de Salvador.
A parceria terá a duração de 30 anos. Durante esse período, os investidores
poderão explorar os serviços oferecidos no estádio multiuso. Apesar de o
grupo português arcar com 100% dos investimentos, a Arena terá seus direitos
de administração e exploração divididos entre a Edifer, a Vitória S/A,
presidida por Paulo Carneiro, e a Brasil Arenas, empresa especializada em
eventos culturais e esportivos, que também possui atividades na terra lusitana,
em sociedade com a Edifer.
Segundo o brasileiro Clóvis Martines, o acordo ultrapassa os limites da construção
da nova propriedade do clube. "Trata-se de um empreendimento inédito no
Brasil: um complexo de multimídia, lazer, esportes e cultura", explicou.
Martines esclareceu ainda, em entrevista à Agência Lusa, que existirá uma
sociedade entre três empresas, na qual a Edifer será a majoritária, e cada
uma vai explorar setores diferentes do projeto. "É uma engenharia
financeira muito complexa, mas, simplificando, um sócio ficará com o valor das
cadeiras cativas e o nome do próprio complexo, outro com a bilheteria e outros
com o direito de transmissão", declarou ele.
Ainda existem outras duas empresas envolvidas no projeto, além das já citadas:
as americanas Global Spectrum, do grupo Concast, que opera 37 complexos
semelhantes no mundo; e a NBBJ, especializada na arquitetura de estádios e ginásios.
A Consplan, a Santi Mendonça, ambas da Bahia, e a Sertenge, do Rio de Janeiro,
participam como sócias do empreendimento. O Governo da Bahia e a Prefeitura de
Salvador apoiarão o projeto com obras de infra-estrutura e descontos fiscais.
O projeto arquitetônico feito pela empresa NBBJ impressiona. A grandiosidade
desse projeto junta-se com os planos ambiciosos para a Arena. Está prevista a
construção de uma área VIP com 2,5 mil poltronas especiais dotadas de
monitores, de onde os lances da partida poderão ser vistos por vários ângulos,
através do circuito interno de TV. Nessa mesma área, existirão 150 camarotes
- dotados de banheiro, closet e ar-condicionado - com capacidade para 12 pessoas
cada um, que seguindo os moldes europeu e americano deverão ter seus direitos
de uso vendidos a companhias, que geralmente os compram por uma temporada.
Mas o projeto não se limita apenas ao futebol profissional. O complexo
rubro-negro terá uma mini-arena para cerca de quatro mil pessoas, voltado para
esportes olímpicos indoor. Além disso, funcionará todos os dias, desvinculado
do calendário do Esporte Clube Vitória. Haverá também um anfiteatro com
capacidade para 40 mil pessoas e um centro de convenções para a realização
de feiras, congressos e reuniões de empresas, além de bares e restaurantes.
O presidente do conselho da Edifer, também vice-presidente da Câmara de Comércio
e Indústria Luso-Brasileira de Lisboa, justificou a escolha da Bahia para a
entrada da empresa no Brasil por se tratar de um local com grande potencial para
se tornar o maior centro de turismo especializado do país.
Segundo Martines, foram feitos diversos estudos e projeções e concluiu-se que
a Bahia, estado no qual já viveu, "é o melhor local para o
empreendimento, já que tem seu nome ligado à música, ao lazer, além de sol e
praias".
A administração desse grande complexo ficará a cargo da Brasil Arenas,
parceiro da gigante americana Global Spectrum, dona de um time de basquete
americano e operadora de 30 complexos de entretenimento, desde o Texas até
Kuala Lumpur.
Modelos
Amsterdam
Arena: principal inspiração para o Vitória.
Existem diversos exemplos de projetos como esse ao redor do mundo, mas um
pode ser considerado o melhor exemplo do potencial desse tipo de negócio.
Trata-se do Amsterdam Arena, na Holanda. Custou mais do que o triplo do projeto
rubro-negro, financiados pela prefeitura e por empresas como Philips, ABN AMRO
Bank, Coca Cola e KPN Telecom. Em seus corredores internos, exitem mais de 50
lanchonetes, megastore de artigos esportivos, 200 monitores de TV e muito mais.
Com teto retrátil, o campo é alugado para casamentos e bailes de formatura. Já
houve até concerto do Rolling Stones e uma grande festa para 38 mil pessoas. O
Ajax, dono da Arena, embolsa 10% das receitas anuais (US$ 40 milhões), o que
garante a estabilidade financeira do clube.
Se os outros grandes clubes brasileiros seguirem as oportunidades do mercado,
esse não será o primeiro projeto desse porte. De acordo com a consultoria
Deloitte Touche Tohmatsu, grandes construtoras e empreiteiras dos Estados Unidos
e da Europa têm cerca de US$ 500 milhões reservados para construção ou
reforma de pelo menos dez estádios de futebol no país nos próximos dois anos.
"Pode ser a salvação econômica do futebol brasileiro", diz
Alexandro Loures, diretor da Consultoria Deloitte, cuja missão é fazer o
meio-de-campo entre os clubes nacionais e investidores.
Os clubes que queiram se candidatar a receber esse tipo de financiamento têm
que apresentar uma estrutura profissional e mostrar que são capazes de serem
rentáveis em longo prazo. "Dinheiro para modernização de nossos estádios
existe. O que falta é maior organização, planejamento e principalmente
transparência por parte dos clubes para conquistar a confiança dos
investidores estrangeiros", explica Loures, da Deloitte.
Segundo o presidente do Vitória S/A, Paulo Carneiro, "O futebol brasileiro
tem incapacidade crônica de criar receitas. Dependemos do dinheiro da TV, isso
não pode continuar assim". Para ele, a mudança para S/A foi essencial
para os investidores chegarem. "Nós viramos S/A antes mesmo de ter um sócio,
até porque antes disso tínhamos dificuldades para entrar nos bancos. Ninguém
confiava no clube, que poderia mudar sua administração e romper seus
compromissos. O Vitória S/A pode ser rompido por um cisão empresarial. Estamos
atraindo investimentos porque o meu balanço está disponível no site do Vitória.
Somos transparentes."
Se todos seguirem o exemplo do Esporte Clube Vitória, o futebol brasileiro
poderá ter sua profissionalização acelerada. Com os clubes passando a contar
com uma melhor infra-estrutura e novas fontes de receita, no futuro não
precisarão vender seus craques para pagar as dívidas, o que seria um sinônimo
de espetáculo ainda maior nos campos brasileiros.