Noticiario do Esporte Clube Vitória e os Jogadores que foram Negociados

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13/09/2005

Vitória
Aparências, nada mais

Presidente Paulo Carneiro estruturou o Vitória, mas, com o passar do tempo, atrapalhou-se todo, criou zonas de atrito, endividou o clube e o levou para a Terceira Divisão. Nenhum título nacional, tampouco a arena multiuso. Mas não quer largar a presidência

Paulo Simões
paullosimoes@atarde.com.br


Paulo Carneiro, engenheiro mecânico de 54 anos, vai responder na Justiça pelo crime de racismo, denunciado pelo goleiro rubro-negro Felipe. O presidente do Vitória se desesperou com o rebaixamento, cometeu excesso e foi convidado a deixar o cargo. Ontem, no entanto, garantiu que não vai sair facilmente.

A cúpula rubro-negra já foi mais tolerante com o executivo do Vitória S/A. A escaramuça no vestiário do Barradão, após o empate em 3x3 com a Portuguesa, até seria absorvida não fosse a conseqüência do resultado.

Mas ao chamar o jogador de “preto safado”, Carneiro acabou com a paciência do padrinho Ademar Lemos Júnior, ex-presidente e responsável por sua ascensão no comando do Leão, no final da década de 1980.

Pressionado por todos os lados para tomar uma atitude, Ademar se juntou a Maneca Tanajura, presidente do Conselho, enfrentou a fera e sugeriu-lhe a renúncia. A sugestão soou como ordem.

Antes de agredir a Felipe, chamando-o também de vendido e convidando-o para brigar, Carneiro já havia sido acusado de racismo contra um auxiliar do Ipitanga e deu um empurrão no meia Advaldo, depois do rebaixamento à Segundona, em 2004.

No presente, o destempero de Carneiro apenas embrulhou a bomba de grande potência que a opinião pública lançou no colo dos dirigentes rubro-negros. Seu reinado ruiu no sábado. Mas já vinha caindo há tempos.

GOLPE DURO – No ano passado, o cartola foi jogado no canto das cordas depois que o Vitória perdeu para um time reserva da Ponte Preta, também em casa, e desceu para Série B. Torcida, conselheiros, imprensa, todos o apontavam como responsável.

Carneiro enfrentou a pressão e resistiu de pé. Numa noite fresca, na sede social, respondeu a perguntas, ouviu críticas e sugestões e prometeu arejar a sua administração. O conselho teria espaço para atuar.

O todo-poderoso executivo do Vitória S/A mudou. Mas não como a galera previu. Fora a aparição nos programas esportivos de rádio, que deixou de ser diária, não se notou outra diferença.

Os salários de jogadores e funcionários continuaram atrasados. As contratações decididas sem consulta se repetiram. O time não se ajustou. À exceção do título baiano, o time só acumulou fracassos no ano.

Após a desclassificação na Copa do Brasil perdendo duas vezes para o inexpressivo Baraúnas, de Mossoró (RN), Paulo Carneiro vendeu os direitos federativos do zagueiro Adailton. Depois reuniu a imprensa e anunciou a recompra das ações do S/A, em poder do grupo argentino Exxel.

A intenção parecia ser das melhores: começar a recuperar a autonomia do Leão abrindo mão de um jogador de Seleção Brasileira. Não fosse a falta de oportunidade do momento e o zun-zun-zum que surgiu com a operação de milhões de verdinhas.

Há quem ache que o dinheiro deveria ser usado para quitar salários e devolver estabilidade ao time do hesitante técnico René Simões. A grana, segundo Carneiro, foi paga aos argentinos como sinal.

BOLADA – Conselheiros denunciam que, na operação, Carneiro ganhou uma bolada atuando como “expertise”, espécie de consultor financeiro. Algo superior a US$ 1 milhão. Não se questiona a honestidade do negócio. Mas o oportunismo.

Ademar já está ao par da novidade que teria sido passada pelo próprio Carneiro em reunião com seus pares. “Vamos averiguar isso nos próximos dias”.

Outra complicação na gestão de Carneiro, este ano, envolve o centroavante Obina. O Al-Ittihad da Arábia não pagou os 2,5 milhões de dólares combinados na venda. O jogador acabou ficando livre e o Vitória sem dinheiro para quitar salários. A quantia está sendo cobrada via FIFA.

A sobremesa fica por conta do negócio enrolado envolvendo o lateral-esquerdo Vágner Diniz, revelado pelo Treze de Campina Grande e, hoje, no Vasco. O Vitória teria pago R$ 50 mil para ter preferência dos direitos federativos do jogador. Mas o recibo do pagamento sumiu.

Por fim, fica a torcida a perguntar: a quantas anda o projeto de arena multiuso, um complexo esportivo e de lazer que o rubro-negro construiria na Avenida Paralela? Ninguém sabe.

Uma montanha de dólares

Nos 17 anos que comandou o Vitória, Paulo Carneiro fez negócios vultosos. Milionários. Sobretudo vendendo direitos federativos de jogadores para o mundo. Para grandes clubes.

Os valores nunca são revelados com precisão. Nem mesmo aos conselheiros. Eles se queixam. A explicação é sempre a mesma: “Assunto interno da empresa”. Como se o Vitória não fosse entidade de utilidade pública.

Paulo Carneiro está no Vitória desde 1988. Começou como diretor de futebol de Ademar. Depois substituiu o mestre e o superou. Ganhou 12 títulos baianos desde 1989.

Carneiro sonhou alto e com a grana da venda de jogadores jovens investiu na Toca. Modernizou o estádio, construiu campos, departamentos médico e odotológico e outros equipamentos de apoio para os profissionais.

Mas os conselheiros desejam fazer o encontro de contas. O vereador Agenor Gordilho quer saber quanto entrou e como foi gasto. “Não havia transparência e o Vitória não tem dono. O clube pertence ao torcedor”.

Confusão em reunião noturna

Uma reunião acontecia na noite de ontem, na sede social do Vitória, quando o ex-presidente Eduardo Moraes chegou vociferando e xingando todos. Houve uma dispersão, e o encontro que poderia iniciar o processo de afastamento do presidente Paulo Carneiro foi cancelado. O advogado e ouvidor rubro-negro Sérgio Almeida foi à 9ª Delegacia de Polícia, na Boca do Rio, para prestar queixa contra Moraes.

Sergio Almeida relatou nos microfones da FM 104, ao repórter Wilton Matos, que “Eduardo Moraes destruiu mesas e ameaçou voltar armado para agredir os dirigentes”.

Por isso, o advogado rubro-negro requisitou à Policia Civil garantias para o patrimônio e dirigentes do Vitória. “Com marginal a gente trata dessa forma”, disparou.

NÃO SE DEMITE – Através do site oficial do Vitória, Carneiro afirma que vai pessoalmente comandar o processo sucessório do Vitória S/A, “se ele vier acontecer”. Desta forma, ele rechaça a possibilidade de pedir demissão.

Conforme a nota, o dirigente diz que somente o Conselho de Administração pode demiti-lo. O conselho é formado por três representantes do Grupo Exxel e quatro representantes do Vitória, um deles o próprio Carneiro, que preside o colegiado.

Carneiro desmente o presidente do Esporte Clube Vitória, Ademar Lemos, afirmando que seu afastamento da presidência não foi de comum acordo. Segundo a nota, ele está preocupado é com o sócio argentino.

Em 2000, Carneiro pensou estar fazendo um negócio da China ao atrair o grupo argentino Exxel para se associar ao Vitória. No início foi maravilha, mas a crise cambial da Argentina, dois anos depois, pôs tudo a perder.

No ano passado, Carneiro entendeu que a sociedade não tinha mais sentido. Os argentinos tinham outro foco para o negócio. Queriam dinheiro. O Vitória deseja um parceiro para fazer investimento na infra-estrutura do clube. Foi acertada a recompra das ações. Final desta S/A.

Uma safra inesgotável

z Veja a seguir os jogadores que o Vitória negociou ao longo dos últimos anos:

POSIÇÃO CLUBE ANO DA VENDA

Goleiro: Dida Cruzeiro/BRA 1994
Fábio Costa Santos/BRA 2000

Zagueiro: Fábio Bilica Venezia/ITA 1999
Júnior Tuchê Palmeiras/ITA 1998
Adailton Rennes/FRA 2005
Moisés Spartak/RUS 2002

Lateral: Rodrigo Bayer Leverkusen/ALE 1995
Índio Corintihans 1998
Júnior Palmeiras 1995
Leandro Cruzeiro 2001
Leilton Samara/RUS 2002

Meio-campo: Dudu Cearense Kashiwa Reysol/JAP 2003
Matuzalém Belinzona/SUI 2001
Tácio Venezia/ITA 2001
Fernando Kashima Antlers/JAP 2002
Vampeta PSV/HOL 1994
Leandro Bonfim PSV/HOL 2001
Zé Roberto Kashiwa Reysol/JAP 2005
Cléber Kashiwa Reysol/JAP 2004
Allan Delon Querétaro/MÉX 2004
Preto Vitória de Guimarães/POR 1998

Atacante: Alex Alves Palmeiras/BRA 1994
Cláudio PSV/HOL 1998
Paulo Isidoro Palmeiras/BRA 1994
Ramon Bayer Leverkuson/ALE 1995
Petkovic Venezia/ITA 1999
Nadson Samsung/COR 2004
Obina All-Íttihad/SAU 2005
Zé Roberto Braga/POR 1993

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